[ NANOrESENHA ]
Joca Reiners Terron
Houve
um tempo em que nem todos os escritores desejavam ser Charles Dickens ou
se identificavam dizendo “sou apenas um contador de histórias”. Esse tempo
acabou, mas volta e meia surge alguém para lembrar que a literatura nem
sempre se compõe só de historinhas contadas tim-tim por tim-tim. Não me
refiro ao experimentalismo inócuo (se chamam o romance de experimental, é
porque a experiência não funcionou, dizia William Burroughs), mas à
porra-louquice literária e muito bem-vinda. É onde se encaixa Todos os Cachorros são Azuis, novela de estreia de Rodrigo de Souza Leão. Misto de diário hospitalar com delírio quimioterápico, é um livro que tem antepassados em Lima Barreto, Maura Lopes Cançado, Campos de Carvalho e Waly Salomão. Doidão, o narrador vai parar no hospício, aonde encontra seus melhores amigos, Rimbaud e Baudelaire. Curado, funda uma religião, o Todog, e uma nova língua. “O que é a morte, mãe?”, ele pergunta. Ela responde: “A morte é uma novela da Globo, filho”. É de morrer de chorar. Ou de rir?
[Publicado
originalmente no Guia da Folha especial de livros, discos
e filmes] Joca Reiners Terron é
escritor (Cuiabá, 1968). Publicou Do fundo do poço se vê a
lua (Companhia das Letras, 2010), entre
outros. |
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