"minha exposição foi um sucesso..."
Marta Mestre & Ramon Mello
O
ponto de partida para realizar a exposição Tudo vai ficar da cor
que você quiser é a produção plástica do poeta, escritor e
jornalista Rodrigo Sousa Leão. Trata-se da seleção de poemas visuais e
telas — cerca de 60 obras produzidas em 2009, nos seus últimos três meses
de vida, durante a frequência às aulas do professor João Magalhães na
Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em casa, Rodrigo pintava no
playground do prédio, em cima de uma mesa de pingue-pongue. Depois que
proibiram a utilização da mesa, ele passou a pintar dependurando as telas
na janela da área de serviço do apartamento da
família.
Estranha,
infantil, inacabada, entre a garatuja e o signo, a compulsão da cor e a
fantasia da figuração, um dos traços desta produção é o diálogo com a
literatura, a começar pelos títulos das telas: "A insustentável leveza do
elefante", "A morte do Saci", "Gregor Samsa", para além de uma referência
declarada ao universo da loucura e dos remédios (por exemplo, a tela
"Haldol"). Paulo Sergio Duarte vê neste preciosismo dos títulos um traço
dos anos 80.
Fica
de fora uma crítica desta produção baseada em critérios de legitimação da
obra de arte agenciados a um juízo do gosto. Não é isso que se pretende.
Interessa à curadoria trazer para o museu o jogo de olhares entre o código
artístico e as "margens", e promover o debate sobre o objeto da arte, suas
fronteiras, seus limites e impossíveis.
Mais
do que endereçar a obra de Rodrigo de Souza Leão ao sistema das artes,
rotular sua produção, ou legitimá-la, o objetivo é mostrar a relação de
uma obra literária com a sua produção plástica, e os vários desdobramentos
nos poemas visuais e música, que nos ajudam a entrar em seu universo
felizmente desfragmentado. Talvez haja necessidade de reabilitar o delírio
como estratégia da arte.
Marta
Mestre é curadora-assistente do Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro e crítica de arte. Ramon
Mello é
jornalista e poeta, autor de Vinis Mofados (Língua Geral,
2009), e curador da obra de Rodrigo de Souza Leão.
|
volta <<< |