Todos os cachorros são azuis, de Rodrigo

de Souza Leão. Imperdível viagem ao

universo de um autor esquizofrênico

 

 
 

Thereza Christina Motta

 

 

[foto original Tomás Rangel]

 

Com a direção de Michel Bercovitch, os atores e atrizes que compõem o "monólogo" decomposto em cinco vozes, desfiam o texto de Rodrigo de Souza Leão, falecido em 2009, de forma perfeita, dentro da narrativa caótica e incidental, a partir da experiência de internações do autor, que publicou o romance homônimo em 2008.

 

A cenografia, sonoplastia, dramaturgia, edição de texto trabalham de forma sincronizada com as mudanças dentro da dicção profusa, levando o espectador a absorver, de um só fôlego, todo o drama pessoal, a neurose, as alucinações de um ser em conflito com suas próprias observações e catarses.

 

"Tudo que é perigoso tem nome", diz Rodrigo. "Quero ser promovido à alucinação de alguém". Rodrigo enfatiza que "todos esses bichos sou eu. Menos o cachorro azul".

 

A temática poética do romance transformado em peça teatral aborda a fragilidade do narrador, como protagonsta de seu próprio drama, ilustrando o sofrimento com sua observação aguda. A culpa, o ser, o não ser, tudo misturado à não compreensão do sofrimento. Vale a pena ser normal? Ou ele não quer ser normal?

 

Todos os cachorros são azuis é uma montagem cênica esplêndida de uma obra muito bem escrita, por um escritor que não teve tempo de deitar nos louros do que escreveu. Ele tinha pressa de terminar. E pôs um ponto final em suas dúvidas.

 

A inteligência de suas observações fazem rir, chorar e refletir sobre a condição humana, de si e dos outros. E a atuação dos atores faz aflorar o melhor do texto, num diapasão raramente visto em teatro.

 

Até 4 de setembro no Teatro Maria Clara Machado no Planetário, na Gávea. Sábados, às 21h, domingos, às 20h. Não percam.

 

Elenco: Bruna Renha, Camila Rhodi, Gabriel Pardal, Natasha Corbelino e Ramon Mello

Direção musical: Rafael Rocha

Direção de arte: Rui Cortez

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Thereza Christina Motta (São Paulo/SP). Escritora, poeta, tradutora, advogada. Publicou, entre outros, Relógio de Sol (1980), Papel Arroz (1981) em parceria com João Ricardo Scortecci de Paula e Celso de Alencar e, individualmente, Joio & trigo (Poeco, 1982), Areal (Dolfin e Geração Editorial, 1995), Sabbath (Blocos, 1998), Alba (Ibis Libris, 2001), Chiaroscuro — Poems in the Dark (Ibis Libris, 2002), em inglês, Lilases / Lilacs (Ibis Libris, 2003, ed. bilíngue) e o pôster-poema Décima Lua (1983). Participou da antologia de poesia erótica Carne Viva (Anima, 1984) e da Antologia da Nova Poesia Brasileira (Fundação RioArte, 1992), organizadas por Olga Savary e Rios (Ibis Libris, 2003). Vive no Rio de Janeiro. Bloga em http://therezachristinamotta.blogspot.com.

 

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