14 centímetros

 

Ela andava estranha. Falava pouco. Quando o fazia, dizia bobagens. Andava conversando com algumas amigas e chegando a algumas conclusões sobre alguns assuntos pertinentes à nossa relação. Eu não achava justo ficar de fora, sem saber o quê acontecia. A nossa relação estava fadada ao fracasso se as coisas não melhorassem. Mas a coisa principal, o que estava pegando mesmo, era o fato de ela ter parado de fazer sexo comigo. Havia coisa de um mês que Atena alegava as coisas mais estapafúrdias para dizer não ao nosso sexo. Logo algo que era tão gostoso e natural. Algo que brotava do meu âmago com uma força brutal. Homens não podem viver sem sexo e eu estava passando por um momento delicado: aquela greve, aquele período em que as coisas não estavam dando certo, tinha que mudar.

Eu não iria trair Atena — a minha mulher — pois ela era uma fera e não me perdoaria, mas algo tinha que mudar ou iria sucumbir à tentação mais fácil. Eu queria mesmo era Atena de novo. Era um mulherão. Tinha um bundão. Tinha um bocetão. Tudo grande e espaçoso como eu gostava e era importante para o tamanho fora dos padrões de minha superpica: uma geba de 46 centímetros. Eu perguntava a ela, de uma forma sincera, porque estava deixando de fazer sexo comigo:

— Estou com muitos problemas. Estou com a Síndrome do Urso Panda.

Eu num sou um cara chegado às psicologias. Mas fui me inteirar na internet sobre o que era esta síndrome. Primeiramente, soube que o nome síndrome é dado a doenças sobre as quais se conhece pouco e ainda não se tem uma cura para quem tem estas afecções. E, pesquisando mais ainda, fui percebendo que a Síndrome do Urso Panda é aquela que afeta as pessoas que trabalham muito ou estão passando por uma carga de stress muito grande. O resultado para quem está com a SUP é a apatia sexual:

— O que é que você sente? — falei, mostrando meus 46 centímetros para Atena, enrijecidos e pulsando por ela.

— Não sinto nada. Sinto nojo.

— Mas nós fazíamos sexo tão gostoso.

— Pois estou fechada. Não quero mais sexo.

Tudo passava pela minha cabeça. O que mais eu pensava, era que estava tomando um par de chifres. Estava com o moral baixo. Meus 46 centímetros descomunais não davam conta daquela mulher. E eu a queria. Queria, porque amava. Queria, porque ela era um tesão. Queria, porque queria. Mas será que ela estava me traindo?

Fui ao programa de tevê da Márcia, A Hora da Verdade, onde eu — que não tinha dinheiro — poderia saber por meio de um detetive particular se Atena estava me traindo ou não. Eles iam seguir ela por um dia inteiro. Iam filmar tudinho e mostrar na tevê. Que mico! Eu tinha de fazer aquilo. As dores de corno estavam me matando. Se Atena estivesse com outro, eu ia acabar com a vida daquela piranha.

Começaram a crescer as caraminholas na minha mente. Ia reparando em relações sexuais antigas que havia tido com Atena. Eram sempre boas. E ela sempre reclamava do tamanho do meu pênis. Eu tinha orgulho do bicho. Mas fui ficando encucado.

O dia de ir ao programa da Márcia chegou. Eu, que sempre pensei em fazer um filme de sacanagem, devido ao tamanho do meu pênis, estava indo ao programa por carência:

— Há quanto tempo ela não faz as coisas? — perguntou a Márcia.

— Um mês — respondi.

— Você quer saber se ela está com outro?

— Sim.

— Você não tem confiança no seu taco. Precisa de nossos serviços?

— Tenho confiança em mim.

— Pois bem, vou logo te dizendo. Tua mulher está aqui.

Gelei. Havia feito tudo para que a minha mulher não visse ou não soubesse — o que era muito difícil — que eu estava no programa da Márcia.

— Por que você fez isso? Por que chamou minha mulher aqui?

— Gostamos de resolver os problemas. Vamos resolver este.

Se fosse para resolver o problema, eu faria tudo. Márcia falou:

— Este é um caso estranho. Nós colocamos o Sherlock atrás da moça e não encontramos nada. Tudo é fruto da mente deste homem.

O povo me vaiou. Márcia continuou:

— Que entre Atena.

Minha mulher entrou e começou a falar. Disse que estava enfadada. Que não gostava mais de sexo e que aquilo não fazia mais a sua cabeça:

— Eu aposentei minha xereca — disse Atena.

Márcia continuou falando. Dizia que um analista poderia ajudar a resolver o problema dela. Eu aceitava tudo. Queria ter aquelas carnes nas minhas carnes de novo. Queria sentir a chama da paixão mais libidinosa. Márcia terminou o programa e ficou de encaminhar a gente a um psicólogo.

O Dr. Caputchino era um seguidor de Freud.

— Sua mulher está com um bloqueio muito forte.

— Foi alguma coisa que eu fiz.

— O que poderia ter feito? — perguntou o Dr. Caputchino.

— Tenho uma pica de 46 centímetros. Posso ter machucado ela. E aí ela entrou numa de não me dar mais.

— Vou te encaminhar a outro médico. O seu problema é outro. Eu cuidarei de sua mulher. E garanto que ela volta a fazer sexo.

Fui ao outro médico e ele me disse que eu podia fazer uma operação plástica e encurtar um pouco o meu pênis. Por Atena eu faria tudo. O médico me mostrou diversos tamanhos e disse que menos dez centímetros já estava bom. Eu ia ficar com uma pica de 36 centímetros, mas optei por deixar ele na média do brasileiro.

— A média do pênis do brasileiro é 14 centímetros.

— É isso que eu quero.

O médico se sobressaltava o tempo todo. Quando todo mundo queria pôr mais pênis, eu queria pôr menos. Que loucura é a vida de um médico, mas há que se respeitar a vontade do cliente. Naquele dia 23 de abril ele tirou 32 centímetros de meu pênis.

Atena estava melhor. Vestia-se melhor. Andava perfumada. Mas fazer sexo comigo com o pênis de 14 centímetros ela não queria. Reclamava com o Dr. Caputchino e percebia que ele me enrolava. Foi assim até o dia em que, armado, invadi uma sessão do Dr. Caputchino com Atena. Ela estava beijando o Dr. Caputchino. Eu havia tirado 32 centímetros de mim. Havia posto ela num psicólogo pra ver meu par de chifres crescendo. Peguei o revólver, mirei na região pubiana do Dr. Caputchino e gritei:

— Você não vai comer a minha princesa.

— Já comi — falou Dr. Caputchino.

— Por que você deu para ele?

— Ele fez a minha cabeça. Eu estou apaixonada de novo. Quero me separar.

Mandei um tirambaço na região pubiana do Dr. Caputchino. O homem corria. Depois tirei a roupa de Atena e a estuprei. Ela chorava, enquanto eu gozava na sua vagina. Então, apontei o revólver para a minha cabeça e dei um fim à minha vida de 14 centímetros. Morri e hoje estou passando de mão em mão na cadeia espiritual dos estupradores. O meu trabalho aqui é degradante. Estou fazendo um sexo que não quero.

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