antologia

 

parte 2

 

impressões sob pressão alta

 

flores silvestres num vaso

 

tantas flores

que uma só flor

poderia ser

todas as flores

 

poucas cores

que tão raras

as cores poderiam

ser uma cor

 

escolheria três

cores

três cores azuis

e o negro da noite

 

o pote-vaso

de onde brotam

flores e cores

nada mais lápide

 

 

 

 

campo de trigo com cipestres

 

dentro de uma boca

cabelos

 

pelos cardados

verdes

 

num oceano flutua

pe(^)los

 

ainda ereto capim

amarelo

 

 

 

 

impressão: sol nascente

 

o sol infinito

laranja cintilando

no bolor das águas

mansamente dedilhadas

no violão da forma

 

algum timoneiro

conversa cauteloso

olhando o outro

horizonte dos olhos

de Claude Monet

 

 

 

 

cinco banhistas

 

dançam

na alvura de ser

dançarinas tão nuas

que juntas são

o balé do cuidado

aurorante

dançam depois

as bacantes

na orgia da estética

imóvel

(ponte entresseios

ou o sim da moça

ou eva e o pecado

do não)

 

 

 

 

arlequim

 

touros flamenguistas

no peito do arlequim

 

toureiam dentro

possuidores de si

 

panteras dentro

dos balões negros

 

olham para fora

nem vejo pupilas

 

o inferno de dante

dentro do vermelho

 

no húmus da criação

um palhaço triste 

 

 

janelas deitadas

 

surtomania

 

1

 

pânico

no circo

alado

das têmporas

 

endorfinas

macaqueando

a goiabada

pineal

 

volts

em volta

eletrodos

todos

 

de branco

culpados

culpas

pecados

 

haldol

no leite

ralo

do tempo

 

clitóris

de plástico

na sopa

de adrenalina

 

 

2

 

nódoas

nuas

cristalizadas

na nuca

nunca

injete

tudo

 

 

3

 

camisa

sem mãos

sem mangas

nos olhos

apenas

antolhos

 

na janela

áurea

de peristilos

 

punção

de morte

fode

 

 

4

 

peixes

fisgando

anzóis

comicham

no corpo

baleias

de chupeta

 

 

5

 

na veia

sossegada

o leão

caminha

inválido

de juba

cortada

cuspindo

vida

curta

em curto

circuito

fechado

faixas

vendas

ferem

as paredes

sem degraus

as pilastras

sem grade

degrade

degradado

de sol

de lua

chuva

desbotada

eletrochoque natural

 

enguias

guiam

os volts

 

na cabeça

dos

cegos

de

si

 

 

 

 

aquário

 

no aquário os peixes brisam

levando flâmulas e bandeiras

 

essa bebedeira nunca passa

o porre parece ser eterno

 

dia após dia vomito ventres

já não tenho um corpo material

 

sou uma pétala ou página branca

bailando no vento do rabo do peixe

 

 

 

 

outonal

 

o ferro na alma

do almoço se amassa

mesmo comida quente

 

os dentes quebrados

na frente fonte fronte

canudos líquidos

 

 

 

 

rimbaud

 

galos

de

campina

 

crinas

de capim

 

em

mim adrenalina

 

ansiolítico

no

fim

 

da

tarde

trôpego

 

tropeçando

em seu

crepúsculo

 

 

 

 

mallarmé

 

segura

prende e bate

e arrebenta

os testículos

          o ventre

não aumenta

derrama

          a discórdia

do silêncio

arranca

          estripa e amputa

freme

bisturis

          em punho

na medula

lobo

      toma os uivos

selvagens

 

 

 

 

aceitando o sempre

 

sinto

sempre

o

cerco

circundando

 

em

mim

metáfora

tênue

de mim

 

de mim

respostas

dúbias

ouvirão

todos

 

que

esticaram

os corpos

de meus

estilhaços

 

 

 

miragens póstumas

sob um sol quase se apagando

 

cerebral

 

lâmina

labial carne que

                      tende

à língua

gen

 

 

 

 

orquestra

 

som sob a estação

sobre

posição

 

sombra sobre sombra

orquestra

no ensaio de fellini

tomba

 

 

 

 

lagoa

 

a garça

disfarça-se de branco

 

para nuvem

ser

 

também silenciar

 

 

 

 

unhas

 

ponte para

ir além do céu

e voltar

 

ponte para

se abismar

e cair

 

ponte para

nadar

na horizontal

 

ponte para

ligar o rio

              a niterói

 

ponto

final da unha

de quem rói

 

 

 

 

miragens póstumas

 

perder é

apostar

e não ir além

de ser

pente sobre os cabelos

 

guardar o veneno

entre

pelos

 

deixar ereto o sol

e bêbado

os camelos

 

 

 

 

poema

 

prenhe de poesia

cataplasma

 

catapulta o poeta

sampleador

 

da rima

 

nasce o poema

e a armadilha

 

e dentro do alçapão

a poesia

 

busca o poeta

e é só sutura

 

aquilo q está

de armadura

 

pronto pra lutar

e lapidar

 

o verso e o vaso

e a veia

 

até escultura

 

 

 

 

pólen

 

tudo demais

faz bem

 

depende

do alpendre

 

se aguentar

a parede

 

se aguentar

a rede de amor

 

as flores e beija

flores

 

trocando salivas

de pólen 

 

 

 

tudo e nada que eu nunca entendi

sobre o nada e o tudo

 

santos dumont

 

Olhou os céus

Caírem de si e caiu em si.

Caiu de uma gravata.

Para teto abaixo

Quando viu bombas

Caindo de um avião.

 

Na sua lembrança

O 14 bis

Decolou com um sonho

E naquela hora

E até hoje quando lembro dele

 

A compaixão me abraça

Com muita tristeza.

Quantos homens sãos

Ficaram loucos

E tiraram de si,

Sua maior violência.

 

O suicida não irá nunca

Para um lugar pior

Um santo

Deve estar com anjos

E trombetas brancas.

Quem inventou o Mal?

 

 

 

 

antinietzsche

 

Quem soube que o crepúsculo

Fazia dos deuses

Cartilagens de um esqueleto.

 

E na análise genealógica

Do que o Bem e o Mal

Produzem de mal enquanto dicotomia.

 

È que abandono a prosa

Pela poesia

Sendo anti-Niezsche.

 

Sou o nietzscheano menos nietzscheano

Quando no Paraguai

Crianças rezavam a Cristo.

 

Assim imploravam a irmã

Que fosse uma maça

Na massa do bolo nazista.

 

E Hitler fazia o sinal da cruz

E fugiu do inferno

Dando um tiro em si.

 

 

 

 

lúcifer

 

Todo o inventor

Faz o mal?

 

Quando o fogo iluminou

o Sol?

 

Quando o fogo iluminou o homem

Sabia que o demônio era o próximo

Bem a ser o Mal?

 

Lúcifer foi um Anjo que caiu

No colo do Bem

Ou foi um filho rejeitado? 

 

 

na carótida da poesia 

baker

 

negrunhas

no

pistom

reluazulando

os

olhos

da

primeira

nota

a

retinir

em

chet

 

 

 

 

a jaqueline

 

os

olhos

tão

azuis

q

parada

poderia

ser

o

caribe

inteiro

sua

piscadela

 

 

 

 

a glauco mattoso

 

sonoro

ser

luzificado

de

tanto

ver

 

 

 

 

a florbela

 

ao invés

de tapa

me espanco

toda

a vez que

nua

a flor

bela

espanca

 

 

 

 

*

 

músculos

rompem

o crepom

 

baionetas

nascem

do solo

 

olhos

guerreiam

com garfo

 

pedras

resaqueiam

a brisa

 

folhas

lambem

o solo

 

irei

cinzas

ser

 

 

 

ainda

 

Ainda

Não circundei

A tarde toda

 

Vazio sou

Agora sei

Que ainda

 

Continuo

Desabando

Em você

 

Meu terremoto

De edifícios

E desabafos 

 

móbilestrelas

 

deserto

 

Lança chamas

Crinas rubras

 

No horizonte

Pontes se abrem

 

Navios derreiam

Deserto passa

 

Parado como

O eterno sempre

 

 

 

 

beijo

 

no lábio vulvo

decalcada língua

 

pérola-rubra

 

 

 

 

para

 

Toda você

Ósculo

E silencioso

 

Britar

Da tatuagem na

Ponta da agulha

 

Ombro na

Ode de mim

Nuncódio

 

Código Morse

Horses no

Branco o branco

 

 

 

 

ponte

 

Arpejas rugas

Sonoridades nuas

 

Cintilam

No oposto do rosto

 

Musas de abismo

E plumas

 

O vaso de flores

No canto da boca

 

As cores

Descolorem

 

No morto

Os mortos

Todos 

 

 

as teorizações sobre a coisificação do caos 

 

 

o enigma

 

enquanto o caos enquan

to quantum quantidade

 

enquanto mantra de luz

o nirvana quântico

 

é uma iguana na boca

de algum acorde maior

 

talvez o enigma de alguém

seja não ter enigma

 

 

 

 

o caos

 

o caos enquanto coisa

camufla a coisa em si

 

ou é um cacho de uva

nos cabelos da aurora

 

dedilhada no silêncio

de um luar que arfa

 

por uma quietude sim-

ple mind.

 

 

 

 

carnaval

 

engraçado que quem pede carnaval é ela

enquanto eu animal enjaulado em mim

 

apenas digo: meu ventre está com um filho

e o segundo sol coloca chamas

 

não me chama rosa pois estou tão triste

que murchei te entendendo um segundo

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