treze

 

 

bic

 

canetas

compro

e somem

 

não são mulheres

de um só

homem

 

 

 

 

kellogg's

 

homens não são sucrilhos

agachados nos milhos

 

homens são sacrários

uns bons outros otários

 

 

 

 

hoje

 

enxame

pouco mel

 

e muita abelha

na colmeia

 

da poesia brasileira

 

 

 

 

bodoque

 

havia um bodoque no meio do caminho

no meio do caminho havia um bodoque

 

tinha uma pedra antes do bodoque

eu olhei para a pedra e peguei o caminho

 

peguei a pedra e mirei no destino

o tiro saiu pela culatra do bodoque

 

hoje há um bodoque e uma pedra

e tomara ninguém venha matar pássaros

 

 

 

 

aurora

 

o sol nasce de preto

e a lua de azul

 

aos poucos o esqueleto

ganha carnes

 

brancas nuvens

e rouge

 

o homem da previsão

diz que vai chover

 

pó de arroz

canivete e giz

 

let's singin' in the rain

 

 

 

 

*

 

o copo quebrou

e não foi preciso mais nada

além da voz de Yma Sumac

 

o copo quebrou

no agudo do passarinho

dentro dela

 

o copo quebrou

e os cacos ficaram no chão

para algum faquir sorrir dor

 

o copo quebrou

e toda criança sabe

que a boa água é a da bica

 

 

 

 

proteção às putas

 

o filho da puta

é o meu filho

porque ela é puta

ser filho da puta

não o incomoda

não a incomoda

não me incomoda

afinal

todo mundo é filho de

uma foda

 

 

 

 

arte

 

eu não sei captar lei

capitularei

 

 

 

 

girassóis

 

vulva amarela inquieta em frenesi

sem penisculoso músculo de fogo

 

um coração amarelo cheio de plumas

cardadas de excitação etérea

 

silêncio fecundando as paredes

amargos lábios que eu beijo de língua

 

 

 

 

onda

 

ronda

a noite redonda

na redoma

 

ando

contornando

a lua caramba

 

samba

no caramelo

do meu sêmen

 

santa

senta no estandarte

do meu samba

 

 

 

 

 

equilibrista

 

as lonas de prata

no picadeiro da noite

 

as luas como facas

no rosto da malabarista

 

o nariz do palhaço

no elástico tristeza

 

só na corda bamba

eu me sinto feliz

 

poetalhaço

 

me acho

um gênio

 

enquanto faço

depois

 

palhaço

 

 

 

 

pó e max

 

tenho vergonha de certas coisas

que eu escrevo

mas assim mesmo escrevo

 

escrevo como quem deve ao medo

a vida

sempre de saída

 

escrevo pois o que se desagrega

agrega ao caos

do arroz de festa a la grega

 

sou o arroz de festa ou o arroto

que empresta

um soslaio a uma fera pobre de abcde

 

é hoje que coloco pra fora

toda a aurora

(como gosto dessa palavra!)

 

 

 

 

inventário

 

eu sou um museu

tenho uma filha com nome de furacão

uma mulher com nome de vulcão

uma farmácia particular

um corpo pra me distrair

e dois copos de vidro

um eu quebro

e brindo com o outro

dentro do meu museu há um zoológico

há um parque de diversão

um cidadão jogando paciência

e um cientista se fingindo de importante

há vários covardes como eu

alguém bebe leite quente

palavras se devoram dentro da boca

há um homem vestido de burro

um burro vestido de homem

mandei tudo à merda

mas um pouco de mim foi junto

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