rodri colores

 
José Aloise Bahia
 

Fora. Fora de foco. Estou cego. Todos os cachorros são azuis.

 

Parados frente a frente no mês de julho, a cortina rasgada e

o véu moderno baudelaire dobrando a esquina verde lexotan.

Voava vermelho china na pele do saci do parque lage, perto

do pouco sol de inverno que ampara agora os meus olhos.

 

 

Estou triste e todos estão felizes. Um elefante no corcovado.

 

Cruzava o crepúsculo em notas de clarins, trêmulos pincéis

inflamados de cinza arrastando sonhos pelas ruas desertas.

E gaivotas tricolores retornam inquietas do maracanã cheio

de bandeiras, cravejando o empate plástico desta partida.

 

 

Surdo e mudo. Estou com nervos claros. Três girafas firmes.

 

Tentam entrar no quadro acompanhadas de três hipocampos

dourados, mas o saci rivotril branco detona baionetas negras.

Em curto-circuito foram contendores, por longo tempo, em tom

pastel aguardar um esguio corpo curvado de verbenas e haldois.  

 

 

Olhei o horizonte. Batman e quatro rouxinóis no cristo redentor.

 

Rimbaud parece assustado, retrato do rio descorado por animais

iluminando a insônia do tempo, adoçante verde-água sem mim.

Que lenta combustão fixar a prosa desmedida, insultada pelas

cores em movimento, quando suspira nas entranhas do poema. 

 

 

Deus não: deuses. Tenho rituais. Cinco rosas e dois querubins.

 

Convidam remédios cavalares, embora toda a noite o verso grita

à lua crescente com que dizer adeus nas dores da criação, a voz.

Minha sina de espinhos marrons saltando às têmporas tingidas,

aviva um último olhar em prece pela natureza um breve canto

de primavera, suspiro de pigmentos no céu onde as estações

                                                           jamais terminam.

 

 

02 / julho / 2009

 

 

 

LEÃO

 

O amigo e o poeta

Voam no movimento silencioso até o céu,

A mais perfeita imagem do adeus.

Sobre a saudade, filha da alma,

Pertence à dimensão do sol, a ausência

Ilumina soletrar os dias

Imortais dos olhos e a memória sagrada.

 

 

05 / julho / 2009

 

 

José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista, escritor, pesquisador, ensaísta e colecionador de artes plásticas. Estudou Economia (UFMG). Graduado em Comunicação Social e pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo (UNI-BH).  Autor de Pavios curtos (Belo Horizonte: Anomelivros,  2004). Participa da antologia O achamento de Portugal (Lisboa: Fundação Camões/Belo Horizonte: Anomelivros, 2005), dos livros Pequenos milagres e outras histórias (Belo Horizonte: Editoras Autêntica e PUC-Minas, 2007), Folhas verdes (Belo Horizonte: Edições A Tela e o Texto, FALE/UFMG, 2008) e Poemas que latem ao coração! (São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2009).
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