dostoievski

 

Leonardo Marona

 

 

Para Rodrigo de Souza Leão 

 

quando, inchado, surgir o rosto

vermelho da sentinela siberiana,

então não haverá mais o tempo

para observar a Madona Sistina,

não haverá a saliva, que escorre

enquanto os gritos viram vasos

que estouram no giro da roleta

e ameaçam o sentimento volátil

que rosna das entranhas, a queda

que derruba da cadeira, e a pena

permanece intacta, mas a marca

são aquelas pernas muito curtas

que não se dobram, acorrentadas,

a testa vasta, a fuga para Baden

quando gastas as últimas moedas

na sorte, tão falha como na hora

que contou 1457 passos de casa

até o cassino onde, por um soco

perdeu tudo, voltou aos prantos,

culpando a esposa pelo inaudito

que espreita dos pequenos vasos

na cabeça febril, ao pegar a pena

que escapa por um triz, as ondas,

não se vê mais nada, só as ondas,

a explosão eslava: última saliva.

 

 

10 / julho / 2009

 

 

Leonardo Marona. Faz trabalhos como tradutor de inglês e publica textos em alguns periódicos de Literatura, como o Jornal Plástico Bolha (Depto. de Letras da Puc-RJ) e o Jornal Vaia, de Porto Alegre. Traduziu a peça Otelo, de William Shakespeare, dirigida por Marcus Alvisi e Diogo Vilela em circuito nacional no ano de 2008. Terminou a tradução da peça Longa jornada noite adentro, de Eugene O'Neill, para a direção de Vilela, prevista para 2010. Publicou o livro de poesia Pequenas biografias não-autorizadas (Rio de Janeiro: Ed. 7Letras, 2009). Tem dois livros de contos inéditos: Os ossos debaixo dos campos verdes (112 páginas, 2004) e Maldito orquidário (91 páginas, 2008). Edita o blogue Asa Nisi Masa.
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