três poetas & um poeta
Cássio Amaral, Rafael Nolli e Ricardo Wagner conversam com Rodrigo de Souza Leão [janeiro de 2007]
[foto
original de milo
baumgartner]
Cássio
Amaral – Rodrigo, você acha que a poesia é um
espécie de disritimia? O poeta nessa onda de se expressar e se
interrelacionar com o que ele vê e consigo mesmo: você acha que é uma
espécie de loucura?
Rodrigo
de Souza Leão – Eu acho que sim, principalmente os poetas da vanguarda atual. Esse papo de
que a vanguarda morreu eu acho que é meio estranho, porque sempre existe
gente que está na contramão, que está fazendo coisas de invenção. Por
exemplo, o Claudio Daniel é um cara que escreve muito bem e de uma forma
alucinada, meio louca. O próprio Rafael Nolli.
Rafael
Nolli – Mas eu não tenho forma nenhuma, não consigo trabalhar forma e
conteúdo, e eu queria ter forma e conteúdo. O Claudio Daniel já tem uma
forma e um conteúdo. E igual você tem.
Rodrigo
de Souza Leão – O que eu quero dizer é que muitos poetas hoje estão falando que forma é
conteúdo. Acredito que seja. Mas muitos estão privilegiando mais a forma
que o conteúdo. Então o poema quase fica ilegível.
Ricardo
Wagner – Estabelece uma hierarquia. Ao invés de uma complementar a outra,
uma prioriza a outra.
Rodrigo
de Souza Leão – Eu acho que a forma tem que ser apolínea. E o conteúdo, dionisíaco. A
forma deveria ser mais na estruturação do poema. E o conteúdo, mais
caótico. Ao invés do contrário.
Rafael
Nolli – O que nós percebemos é que aqui no Rio há uma preocupação maior com a
forma. Desprezam bastante o conteúdo. Temos conversado muito sobre isso,
aqui a poesia é basicamente falada. Há forma de expressão, sonoridade e
quase sempre não tem conteúdo.
Ricardo
Wagner – Cultivam o exercício da oralidade. Não têm preocupação com o
garimpo.
Rodrigo
de Souza Leão – O que eu procuro dizer é o seguinte: pro cara que não é louco, é mais
fácil o formal e o conteúdo, do que pra quem é
louco.
Rafael
Nolli – Em que sentido?
Rodrigo
de Souza Leão – Por exemplo, você fazer um verso: se você não tem problema de loucura, pra
você falar de loucura, fica uma coisa mais simples. Pra mim, hoje em dia,
não antes, mas hoje em dia, quando eu não falo de um tema bravo, de
loucura, de morte, eu não consigo fazer o poema. Fica um poema meio
atípico. Então, eu sinto mais facilidade quando há essa disritimia, essa
loucura. Eu tenho mais facilidade de escrever poesia que prosa. Mas a
minha prosa... Eu não gosto de escrever prosa. Poesia não! Eu gosto, eu me
divirto, eu me sinto bem, ou mal até, mas eu me sinto. Prosa é um
trabalhão: sentar ali e escrever. Às vezes é chato pra burro. Poesia é uma
coisa curtinha , você faz em dez minutos. Prosa não, você demora uma hora
para escrever uma página. Eu até estabeleci um ritmo que eu tenho de
prosa: eu tenho Carbono
Pautado, Todos os cachorros são
azuis, Homem Telefone — que
é uma homenagem ao meu irmão, que fica no telefone, fica na sala de
bate-papo, no telefone, tentando ganhar a garota (risos
gerais).
[os
quatro, no encontro, na casa do Rodrigo]
Rodrigo
de Souza Leão – Aí, dessa história de
telefone, eu fiz uma novela. São setenta páginas falando sobre o Homem Telefone. O cara que fica no
telefone. O cara transa com uma anã, com uma deficiente física. Aí, ele
reclama do autor, que só transa com os problemáticos, aí o autor dá uma
maravilha pra ele. Eu vou
contar o final... Aí, o personagem mata o autor.
Rafael
Nolli – O personagem é que mata o autor, inversão de
valores.
Rodrigo
de Souza Leão – É, inversão de valores. Tem um outro, que fiz agora, está sem título, tem
trinta e cinco páginas. Uma novelinha. Eu prefiro escrever novela, do que
escrever texto, romance. Só tenho um romance que é o Memórias de um auxiliar de
escritório. Romance é trabalhoso, às vezes não fica como você quer. A
novela dá pra você ter um melhor controle. Uma coisa interessante que eu
me lembrei agora, é que eu fui renegado até pela editora do psicólogo. Eu
mandei um livro pra lá, chama Casa do Psicólogo. Todos os cachorros são azuis é o
nome do livro, conta as minhas passagens pelo hospício, por esses lugares.
O Glauco lançou um por lá. Aí eu falei "Pô, nada melhor que lançar um
livro pela Casa do Psicólogo, não vai ter lugar que vai me acolher melhor
que a Casa do Psicólogo pra eu lançar o livro!". Mandei o livro. Não deu
dois dias, estava de volta. Pelo menos, me devolveram o livro pra eu
mandar pra outras editoras. Mas geralmente só vão pela carta-proposta. E o Carbono Pautado, mandei pra
Objetiva, e a pessoa mandou uma carta pra mim dizendo o seguinte: que
tinha gostado do livro e ia entrar em contado comigo, achando que eu tinha
perdido a mão no meio pro fim. Aí eu peguei o telefone e liguei pra
Objetiva e tentei falar com essa pessoa, mas ela não quis me atender. Aí
eu fiquei meio chateado com esta história, era meu primeiro livro em
prosa, seria uma oportunidade de ser lançado.
Rafael
Nolli – O que foi devolvido pra você em dois dias, possivelmente não foi
lido.
Cássio
Amaral – Talvez eles não sacaram.
Rafael
Nolli – Eles querem é ficção.
Rodrigo
de Souza Leão – Eles querem é ficção, teoria. Eles querem essas coisas. A Casa do
Psicólogo.
Cássio
Amaral – Meu apelido é Cachorrão. Então você tem um livro que chama Todos os cachorros são
azuis?
Rodrigo
de Souza Leão – Todos os cachorros são azuis,
porque era um cachorro de pelúcia azul que eu tinha quando era
pequeno.
Rafael
Nolli – Esse aqui não é de pelúcia não (risos, aponta pra Cássio
Amaral).
Cássio
Amaral – É um livro de memórias?
Rodrigo
de Souza Leão – É de memórias e das minhas passagens pelo hospício duas vezes. Tem umas
pessoas que lembram pessoas relacionadas à minha infância, tem uma que
lembrava minha avó. E eu achando que minha avó estava internada, minha avó
já tinha morrido há dez anos.
Rafael
Nolli – E a internet? Como que começou pra você?
Rodrigo
de Souza Leão – A internet foi ótimo! Isso aí foi maravilha! A partir de 1998, eu acho —
1997 surgiu a internet — eu comecei a entrevistar as pessoas, inclusive,
eu tenho umas duzentas, quase trezentas, entrevistas que eu arquivei. Eu
entrevistava, criei o site Caox, botava lá uns dois poemas e as
entrevistas. Eu achei que a melhor forma de eu me divulgar seria
divulgando os outros. Como eu não era conhecido por ninguém eu poderia ter
acesso aos livros. Muitos escritores, quando você vai entrevistar, não
mandam porra nenhuma, mas hoje mandam os livros. Então, eu pude conhecer
toda a minha geração: Ademir Assunção, Claudio Daniel, Ricardo Corona,
César Alcíades, todos esses escritores que estão hoje num patamar um pouco
melhor. Pra mim foi muito importante a internet, porque eu pude fazer o
meu trabalho de jornalismo. Eu sou formado em jornalismo. Eu consegui me
formar em 1988. Eu tive problema em 1989, mas eu consegui acabar a
faculdade.
Cássio
Amaral – E hoje na música, o que você tem ouvido, escutado? O que você
gosta?
Rodrigo
de Souza Leão – Eu gosto muito de White Stripes, eu acho muito bom, principalmente com a
guitarra, limaram o baixo. Eu continuo escutando o que eu sempre ouvi, eu
gosto muito de Jimi Hendrix.
Cássio
Amaral – Você curte os clássicos? Black Sabbath?
Rodrigo
de Souza Leão – Não sou muito heavymetaleiro não.
Cássio
Amaral – Você curte Neil Yong?
Rodrigo
de Souza Leão – Curto, mas não muito. Eu sou mais fã mesmo é do David
Bowie.
[Bruno
de Souza Leão entra na sala e é apresentado pelo irmão Rodrigo. A
entrevista segue rolando. Bruno nos conta que foi baterista. Ele e Rodrigo
tiveram uma banda que tocou no Circo Voador.]
Rafael
Nolli – O Bruno parece o Edgard Scandurra.
Cássio
Amaral – Parece mesmo.
Rodrigo
de Souza Leão – O Edgard Scandurra?
Cássio
Amaral – O Edgard Scandurra está com Arnaldo Antunes agora, não é?
Gravaram Lupicínio.
Rodrigo
de Souza Leão – Gosto muito do Arnaldo Antunes, tanto como compositor como
poeta.
Rafael
Nolli – Tem poesia na música atual brasileira?
Rodrigo
de Souza Leão – Eu acho que tem.
Cássio
Amaral – E as bandas do Rio, você gosta de Los
Hermanos?
Rodrigo
de Souza Leão – Eu gosto depois que desistiram de "Ana Julia". Aquilo era um saco! Com
esse disco novo eles estão bem melhores. Mas não gosto quando eles vão
muito pro samba. Acho que fica muito diluído. Eu tenho um CD pronto de
música e poesia. É uma mistura de eletrônico com rock, é um trabalho
diferente. Pena que eu não tenha uma cópia do CD pra mostrar pra vocês,
acho que vocês iam gostar. Tem um punk rock que foi a única letra que o
Bruno fez que chama "Esquizofrenia", é assim
(cantarola):
Estou
preso
Grito
socorro para alguém me ouvir
Fico
angustiado falta me ar
Estou
mal
Passo
mal
Nós
gravamos e vou dar os créditos a ele.
Cássio
Amaral – E a cena em São Paulo, você conhece?
Rodrigo
de Souza Leão – Talvez mais que daqui, do Rio. Aqui no Rio, é comandada pela 7Letras, que
sempre lança os escritores novos. Lá em São Paulo parece que o Claudio
Daniel está com uma coleção nova. Tem a Iluminuras, conheço bastante
gente. Teve a Lamparina, que lançou Antônio Mariano, que é da
Paraíba.
Rafael
Nolli – E essa sua ligação com a Paraíba? Já é a terceira vez que você
fala na Paraíba.
Rodrigo
de Souza Leão – Meu pai é paraibano. É, essa cabeça de ovo.
Rafael
Nolli – Então está explicado.
Rodrigo
de Souza Leão – É, a Paraíba é a terra do meu avô, da minha avó.
Rafael
Nolli – É a terra da poesia também! Augusto dos Anjos. E o Mangue Beach?
Chico Science?
Rodrigo
de Souza Leão – Chico Science era muito bom, né? Era um cara genial. Pena que morreu tão
cedo. Vocês vejam que nós perdemos Cazuza, Renato Russo e Chico Science,
antes dos quarenta anos.
Rafael
Nolli – É o que aconteceu com a geração do Jimi Hendrix, Janis Joplin e
Jim Morrison.
Rodrigo
de Souza Leão – Talvez seja o mal do
Rock.
Cássio
Amaral – É a intensidade de viver a arte.
Rodrigo
de Souza Leão – Eu gosto muito do The Doors. Eu tenho um amigo baixista, que detesta o The
Doors, porque não tem baixo.
Rafael
Nolli – Já é a segunda vez que você fala da falta do baixo, seu problema
com o baixo está explícito aqui.
Rodrigo
de Souza Leão – Não, eu gosto de baixo.
Cássio
Amaral – Como você vê a volta dos Mutantes? Isso, em outra época, com
outro contexto, e com a Zélia Duncan. Como você entende isso? Como você vê
trazer The Doors com o cara do The Cult?
Rodrigo
de Souza Leão – Eu acho isso uma babaquice, se fosse pra voltar, ressuscitava o Jim
Morrison e botava pra cantar, pegava a Rita Lee e botava pra
cantar.
Cássio
Amaral – Não é a mesma química?
Rodrigo
de Souza Leão – Não é a mesma química, não
são os mesmos cantores. E a Rita Lee era linda naquela época. Eu não vejo
como uma coisa legal. É como a volta dos Beatles há um tempo atrás, que
todo mundo queria que voltassem. Eu acho que o passado passou e tem que
ficar no passado.
Rafael
Nolli – E o Pink Floyd? Como você viu a volta deles? O Pink Floyd não
acabou, mas tem a questão do Waters...
Rodrigo
de Souza Leão – Eles tocaram quatro músicas e eu chorei. Eu sou contra, mas você vendo os
caras ali...
Rafael
Nolli – O Waters não fez falta, fez? O Pink Floyd sobreviveu bem sem
ele.
Rodrigo
de Souza Leão – Não, parecia U2, o Pink Floyd.
Rafael
Nolli – Eu acho que sobreviveu.
Cássio
Amaral – Um amigo meu viu, e falou que foi bacana, que a química deles
flui muito ainda juntos.
Rodrigo
de Souza Leão – Eu comecei como letrista. Meu irmão teve banda, várias bandas. Até que ele
se firmou numa, chamava Eutanásia. Eles tocaram Jimi Hendrix, Black
Sabbath. Eu tentava cantar, mas como ninguém me dava chance, pensei "vou
ser letrista". Escrevi uma letra na faculdade, a Suzana Vargas era minha
professora, uma poeta conceituada. Ela disse: "escrevam o que vocês
quiserem". Eu escrevi então "Bomba H":
A
bomba é a solução
Em
certa situação
Não
é crise geral
Imposto
territorial
Aí,
ela deu pras salas de aulas, mas ninguém leu o texto. Meu irmão pegou a
primeira parte da letra, e fez a segunda, com a Eutanásia, um hit aqui.
Eutanásia tocou na rádio fluminense. Eu continuei, aí eu fui fazer aulas
de canto. Fiz aulas de canto um tempo. E depois, entrei numa banda chamada
Pátria Armada, e fizemos um certo sucessinho, tocamos no Circo Voador, Let
Bee, Made in Brazil.
Cássio
Amaral – Pátria Armada era
Punk?
Rodrigo
de Souza Leão – Pós-punk.
Cássio
Amaral – Influência das bandas inglesas?
Rodrigo
de Souza Leão – Não, eu comecei a gostar de rock, quando meu tio Paulo César Duarte, que é
um grande crítico literário aqui do Rio, me deu quatro discos, três dos
Beatles, e um dos Rolling Stones, aos quinze anos. Mas eu nem sabia que
aquilo era rock. Mas o rock mesmo, veio com a Legião Urbana, quando eu
peguei aquele disco branco, um amigo meu me emprestou. Eu falei: "é isso
aí que eu quero fazer!". Comecei, imitando o Renato Russo literalmente,
mas eu não tinha a voz do Renato. Aí fizemos o Pátria Armada com a
influência da Legião, mas ficou diferente, pois tínhamos nosso punch. Eu
gostava do U2 naquela época, o Bono cantava muito mais que hoje. Em
"Sunday Bloody Sunday", ele conseguiu aqueles agudos altíssimos. Uma coisa
espetacular! O Bono pra mim era um cantor incrível! Continuo gostando
muito do U2, mas acho que o Bono piorou. Fizemos o Pátria Armada. Aí no
Pátria Armada, eu fazia as letras e cantava. Escrevi também Carbono Pautado, que é um livro de
memórias de um auxiliar de escritório. Conta os bastidores do trabalho. É
um livro de prosa. Ele tinhas umas novecentas páginas. Eu fui limando e o
finalizei em duzentas páginas. Eu queria ser o Balzac do funcionalismo
público. Contar os podres que rolavam nos bastidores do funcionalismo
público. Eu tinha um chefe muito chato, toda vez que ele me sacaneava eu
colocava uma suástica na minha agenda. Uma vez, caiu a agenda e eu pensei
assim, vão achar que eu sou nazista. Aí, fui contando essas histórias, e
estava sem revisão. Fiz a revisão, mas não consegui publicá-lo, ainda.
Recentemente, o Horácio Costa esteve aqui, e deixei com ele dois livros,
um de prosa, o Todos cachorros são
azuis e um de poesia. Ele falou que gostou muito, e indicou para uma
editora. Agora com esse projeto da Petrobrás, eu vou tentar concorrer à
bolsa. Eu tenho livro com ISBN, e carta da editora. Quero ver se eu
concorro. Sei que é muito difícil. Mas vou concorrer.
[cássio, rafael e
ricardo em foto original de thomas
hawk]
Cássio
Amaral –E a pintura como entrou na sua vida?
Rodrigo
de Souza Leão – Vamos ali que vou mostrá-los pra vocês (referindo-se aos
quadros).
Rafael
Nolli – E a técnica dos seus
quadros?
Ricardo
Wagner – Você faz igual o Pollock? Joga as tintas da
lata?
Rodrigo
de Souza Leão – É, eu jogo as tintas da lata. Depois vou com um chuverinho de bidê. E faço
a estrutura. Mas o quadro fica tão difícil de secar, fica um ano pra
secar. Eu só vim a saber depois que óleo não se mistura com
água.
Rodrigo
de Souza Leão – Eu chamo aquele de "Derrame" e este, de "Lua" (mostra os
quadros).
Rafael
Nolli – "Derrame" é mais intenso.
Cássio
Amaral – O "Derrame" tem uma
pegada mais punk.
Rafael
Nolli – Num calor muito forte é possível eles derretam. O David Makin, que
faz capa de revista em quadrinhos — fez as capas do Sadman — numa dessas
experiências um quadro dele que estava num museu derreteu. E foi tão
interessante, que ficou na parede.
Rodrigo
de Souza Leão – O Glauco Matoso é muito meu amigo, ele é um cara que une o apolíneo ao
dionisíaco. E ele faz uma poesia que é a pegada
dele.
Ricardo
Wagner – Ele concilia a forma e o conteúdo, consegue esse
equilíbrio.
Rafael
Nolli –Tem alguma ligação das
suas telas com a sua poesia?
Rodrigo
de Souza Leão – Tem uma ligação num sentido. Eu faço muita gente chorando. Tem um lance
com minha poesia pelo fato da estabanação da loucura. Acho que não são
quadros de teor artístico elevado, é mais uma manifestação do meu
inconsciente. Eu consigo escrever coisas de uma forma simples, que eu
considero com conteúdo e com forma. Eu poderia fazer versos simples sem
falar de loucura, mas não consigo. É isso que eu acho difícil. Sempre
procuro isso, o apolíneo e o dionisíaco na minha poesia, dentro daquilo em
que eu vivo.
Rafael
Nolli – Queira ou não, você realmente é poeta. Você tem formação,
instrução, bagagem e conhecimento de poesia. Além de qualidade e conteúdo.
É poeta mesmo. Você estaria até se traindo se não falasse do que vive.
Tavinho (Paes) até falou disso ontem, da poesia ajudar as pessoas, não
quem tem problema de saúde, ou mental.
Rodrigo
de Souza Leão – Quem tem o problema está em outro mundo. Um mundo particular, eu vivo no
meu mundo particular. E eu coloco pra fora esse
mundo.
Ricardo
Wagner – Você não se envergonha, não faz apologia do que você tem. É como
o Glauco Matoso, ele não esconde o glaucoma. Você encara usando a
linguagem.
Rodrigo
de Souza Leão – Eu não vou fugir nunca disso. Apesar de que eu comecei a escrever sem
tocar no assunto. Eu escrevi dez e-books. Comecei com o No Litoral do Tempo, que tem
prefácio do Claudio Daniel. Ele gostou muito. Ele é muito amigo meu. Nós
fazemos a Revista Zunái. Que é uma revista pela qual o Claudio Daniel tem
um carinho muito grande! E a Ana Peluso, que é gente fina
demais.
Cássio,
Ricardo, Rafael – A Ana é amiga nossa. Nós gostamos muito
dela.
Rodrigo
de Souza Leão – A Aninha é demais. Falo muito com ela, é gente boa. Também escrevi Impressões Sobre Pressões Altas.
Eu tenho pressão alta. Aí, fiz impressões sobre pressões altas. São poemas
que falam do impressionismo: Van Gogh, Monet, Gauguin... Fiz dez poemas
sobre cada um, bem interessantes.
Rafael
Nolli – Van Gogh, você disse?
Rodrigo
de Souza Leão – Van Gogh é demais! Eu gosto do pop também. Esse papo de underground
distancia as pessoas. Por exemplo, nos anos 1980 o underground foi criando
vários under. Fica aquela coisa, o under do
underground.
Rafael
Nolli – O pop pode aproximar mais as pessoas da
poesia.
Rodrigo
de Souza Leão – Vejam
o primeiro disco da Legião, cara, tem muita música legal ali! "A
Dança", "O Reggae" e outras mais. Eu gosto de todos da Legião. Eu e
meu irmão. Meu irmão que é meu parceiro, meu amigo.
Um
poema de Rodrigo de Souza Leão:
AINDA
BEM
Hoje
em dia, quando alguém está doente, a família chama a
polícia.
A
polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam
a
camisa de força.
Eu
não tinha como resistir: eram três tiras mais fortes do que
eu.
Eles
me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha
nada,
mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma
loucura
Mas
eu era um perigo só para mim mesmo.
Do
começo podia sair o fim, mas eu não queria rimar
pobre
com
nobre em versos de impacto, só queria um pacto entre mim e
você.
Eu
jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca.
Eram
centenas e centenas delas, e matei algumas por prazer.
Cássio
Amaral. Professor de História e Filosofia. Autor dos
livros Lua insana sol demente (poesia, 2001); Estrelas cadentes (poesia, 2003); De corpo e alma
em verso e prosa (coletânea de autores blogueiros). Escreve nos
blogues Sonnen e Enten
Katsudatsu.
L. Rafael
Nolli (Araxá/MG). Poeta, publicou Memórias à
beira de um estopim, 2005. Escreve o blogue Stalingrado
III.
Ricardo Wagner. Mineiro de Araxá. Aquariano. Bacharel em Direito. Assistente-advogado da Defensoria Pública. Autor de Rumores da existência, Aind'Essência, Com fissões de um protusuário de boteco e do extinto fanzine "ClãDestino". Bloga no Prepúcio e no Prodigus. |
volta <<< |